Ao conversar com uma amiga, dona de um Buffet em minha cidade, percebo claramente os motivos reais das pessoas quererem votar em Aécio Neves (PSDB).
Ela me perguntou se Dilma ganharia, respondi enfaticamente. - Espero que SIM. Ela respondeu que esperava que não, que não aguentava mais o PT no poder. Continuou dizendo que agora ninguém mais quer trabalhar e que conhecia pelo menos 2 famílias as quais todo o dinheiro do Bolsa Família ficava nas mãos de traficantes na cidade.
Desta forma, tentarei fazer algumas relações econômicas e sociais dessa conversa.
O primeiro sentimento dela está correto, sentido por diversos investidores, o custo da mão de obra está muito elevado. Como pode ser observado no gráfico abaixo, realmente o Custo Unitário do Trabalho está maior que o do Chile e do México. Lembrando que o Chile passa por algumas mudanças políticas e econômicas e é o país que mais cresce na América do Sul, isso implica dizer que a mão de obra ainda tem um baixo custo. Já o México, tem uma economia bastante conhecida por ter indústrias de maquilaria, ou seja, puramente montadores, com mão de obra barata e desqualificada.
No Brasil, estamos em uma situação de quase pleno emprego, com taxas de desemprego na casa de 5%. Isso gera uma pressão de alta nos salários (bom para o trabalhador) que, aliado a uma política de valorização salarial, com o crescimento do salário mínimo atrelado ao Índice Nacional de Preço ao Consumidor (INPC), evitando que o trabalhador que recebe um salário mínimo acumule perdas salariais no decorrer dos anos e proporcionando crescimentos constantes no salário mínimo.
Para ter um melhor entendimento do significado das elevações no salário mínimo, precisamos compará-lo com os demais salários do mercado. Por exemplo um empreendedor autônomo, como um barbeiro, precisará cobrar um valor muito mais elevado pelos seus serviços para que, em comparação com o salário mínimo, seja mais lucrativo empreender ou ser empregado. Dessa forma, também temos um aumento dos preços nos serviços, que não tem sua demanda retraída por ter no país uma população empregada e ganhando salários mais elevados.
Nesse ponto entra a segunda afirmação, que conhece famílias que o dinheiro do bolsa família vai para o traficante". Não há como se definir em qual local o dinheiro será gasto, como por exemplo, fazer com que um aluno de graduação que receba bolsa de pesquisa ou extensão, não gaste seu dinheiro com álcool ou festas. A escolha do consumo é do consumidor, quando o Governo começar a definir com o que você poderá gastar sua renda, ou bolsa, isso será um passo largo de afastamento da liberdade individual. Entretanto o que é preciso se atentar é que provavelmente um parte dessa renda extra. o bolsa família, foi para o serviços de Buffet, inclusive o dela. Esse tipo de serviço não era uma coisa muito comum entre as classes mais pobres (classe E), entretanto essa classe foi bastante reduzida, e provavelmente a classe C pode pagar festas de aniversários ou puramente consumir os produtos que ela ofertava.
Esse crescimento da classe C traduz a inclusão social e econômica de uma parcela grande da população, mais de 60 milhões de pessoas, passaram a fazer parte da classe C. E mais de 10 milhões de pessoas passaram a fazer parte da classe A/B, entre 2003 e 2014.
Sendo assim, o crescimento do poder de compra da população brasileira impactou no crescimento da demanda, que respondeu nos últimos anos pelo principal componente do PIB. Além disso, o crescimento do estabelecimento do Buffet, nesse texto referido, saltou aos olhos. Houve crescimento do tamanho, da estrutura, de equipamentos, de mão de obra e etc. Esse crescimento em partes é explicado pelo crescimento da demanda e aquecimento do mercado de Eventos, assim como também está atrelado à uma política de crescimento da oferta de crédito bancário.
Nesse caso, em específico, não posso afirmar que tenha havido relação direta sobre o crescimento da oferta de crédito bancário público, mas afirmo, sem medo de errar, que indiretamente houve relação. Pois vários estabelecimento na cidade passaram a ter acesso ao crédito via BNDES, pagando um juros anual compatível com o juros mensal que os bancos privados cobram, além dos créditos mais tradicionais na cidade, vinculado ao setor agrícola e agropecuário, com Banco do Nordeste, CredAmigo, entre outros.
Bom no final, consigo entender o porquê os pequenos empreendedores acreditavam que o PT era ruim e o PSDB iria ser bom, porque na aparência, eles não foram beneficiados. Não tiveram seus salários valorizados, está mais difícil e mais caro contratar mão de obra e conseguiram crescer por si só. Mas, na realidade, os salário beneficiaram aos trabalhadores e aos ofertantes de serviços e produtos locais, pois permitiu que milhões de pessoas passassem a ter acesso à bens antes impossíveis de serem adquiridos devido a classe social a qual pertenciam. Outro fator importante é a mobilidade social das classes, coisa que a pouco tempo era quase impossível, filho de marceneiro era marceneiro, filho de médico era médico.
O crédito bancário, fornecido por bancos públicos, chegou a um nível nunca antes visto no Brasil, vários pequenos empreendedores puderam fazer investimento em estabelecimentos comerciais ou em sua atividade rural. Sem comentar no crédito dos bancos públicos vinculados à minha casa minha vida. Ou no pagamento da sua faculdade pelo FIES
Em suma, as pessoas estão com essa impressão, porque não conseguem ver os desdobramentos das políticas econômicas e sociais adotadas nos 12 anos de governo do PT, mas que foram responsáveis por uma grande mudança social, talvez comparada, apenas, com o fim do regime militar no Brasil. Existe muito mais entre o bolsa família e sua vida, do que o PSDB consegue colocar na sua cabeça.
Autora: Magali Alves de Andrade